
29 DE AGOSTO, DIA NACIONAL DA VISIBILIDADE LÉSBICA
As mulheres lésbicas possuem um papel de extrema importância para a história movimento LGBT e feminista, desde as primeiras movimentações no final dos anos 1970, até os dias atuais, mas infelizmente, a participação desse grupo nem sempre teve facilidade de acesso às discussões ou na aceitação de suas pautas. As lésbicas tiveram que enfrentar muito machismo e lesbofobia para conseguirem defender suas ideias durante os anos de 1980 e 1990, e, ainda hoje, enfrentam preconceitos por parte da sociedade.
Em comemoração ao Dia da Visibilidade Lésbica, neste 29 de agosto, lembramos aqui da importância dessas movimentações. A data foi determinada durante o I Seminário Nacional de Lésbicas, o Senale, em 1996 no Rio de Janeiro. Onde, após 17 anos de luta pela visibilidade, as lésbicas finalmente encontram a oportunidade de debater pautas que incluíssem discussões de gênero, racismo e homossexualidade de maneira integral e legítima.
História do movimento
As organizações de homens gays tiveram início ainda nos anos 1970, com o Grupo Somos, quando os mesmos começam a se reunir para debater sobre direitos e medidas contra as perseguições sofridas no regime ditatorial que se fazia presente na época. A eles se juntaram as mulheres lésbicas, que viram ali a oportunidade de colocarem também suas questões sobre feminismo, machismo, liberdade sexual, e de denúncia contra as prisões arbitrárias e torturas comuns na ditadura brasileira.
No entanto, esse grupo de mulheres se via em constante conflito com a comunidade gay. Os homens não davam espaço para as discussões propostas por elas e constantemente eram chamadas de histéricas. Já no movimento feminista, que também iniciava uma forte atuação na época, elas também não conseguiam grande penetração de suas pautas por serem consideradas excludentes e radicais.

Devido à falta de representatividade dentro do Somos, as mulheres lésbicas presentes no grupo decidem então atuar em um subgrupo, o Grupo de Ação Lésbico-Feminista (LF). Algum tempo depois, em 1980, sem concordar mais com as constantes hostilizações que sofriam dentro do Somos, decidem se separar em definitivo e surge então o Grupo de Ação Lésbica Feminista, o GALF.
O caminho por maior visibilidade na sociedade, e dentro da própria comunidade LGBT, a partir de então não foi nada fácil. Apenas em 2003, as mulheres lésbicas conseguem o reconhecimento de sua luta através da I Caminhada Lésbica e, depois, com a mudança de nome da “Parada do Orgulho Gay”, para “Parada do Orgulho LGBT” em uma iniciativa de dar também espaço para transexuais, travestis e bissexuais. Seguindo a tendência, em 2006, mulheres negras organizaram o I Seminário Nacional de Lésbicas Negras: Afirmando Identidades, que aconteceu em São Paulo.
A partir de então, a interseccionalidade passa a ser mais presente em discussões de grupos de mulheres lésbicas e feministas, e se inicia um processo de incorporação da orientação sexual e identidade de gênero nas agendas governamentais e não governamentais, das atividades antirracismo.

Chanacomchana e o Stonewall brasileiro
O Brasil passou por um período muito difícil e sombrio com a ditadura que teve início em 1964. O discurso pró-família e favor da moral e bons costumes imperava na época, e isso levou muitas pessoas a serem presas e torturadas. Entre essas muitas pessoas, gays, lésbicas, transexuais e travestis eram alvo comum das forças de repressão. O que em grande parte fez com que esses grupos se reunissem para discutir ações de enfrentamento.
A imprensa da época também passava por processos de censura e a temática LGBT não tinha espaço nos meios de comunicação de uma sociedade conservadora. É nesse período então, que surgem as publicações independentes que abordavam, entre outros assuntos importantes, a questão da homossexualidade. Foram elas o Lampião da Esquina (1978) com temática gay, e o Chanacomchana (1981), com temática prioritariamente lésbica e produzida pelo GALF.

A primeira edição do boletim Chanacomchana foi lançada em 1981 e circulou por todo o Brasil até o ano de 1987. Na época, começo dos anos 1980 em São Paulo, o Ferro’s Bar era ponto de encontro oficial de mulheres lésbicas e era lá também que elas faziam a distribuição do boletim. No entanto, em 1983, o grupo de lésbicas é expulso do bar pelo próprio dono que não concordava com as frequentes reuniões.

Em uma tentativa de retomada do espaço público, as lésbicas organizam o que ficou conhecido como o Stonewall Brasileiro. Após uma grande articulação com os gays, alguns membros da imprensa, advogados e figuras públicas, elas invadem o bar, em referência a manifestação no bar Stonewall, que aconteceu nos EUA em 1969. O ato teve grande repercussão e, com a pressão exercida pelo grupo, as lésbicas conseguem o direito de voltar a frequentar o local.

O Chanacomchana teve um papel muito importante para a formação de um movimento politizado e para as discussões sobre feminismo e lesbianismo no Brasil. Através dele e de sua linguagem acolhedora e abrangente, assuntos como direitos trabalhistas e direitos humanos puderam chegar à uma parcela da população socialmente excluída. Depois de 12 edições, o Chanacomchana deu lugar ao boletim Um Outro Olhar, que circulou até 1990 e teve 10 edições ao todo.

Compensando a invisibilidade
O termo atual oficialmente usado para a diversidade no Brasil é LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros). Até o ano de 2008, a sigla usada para denominar o grupo, era GLBT. A alteração do termo foi aprovada na 1ª Conferência Nacional GLBT, realizada em Brasília em junho daquele ano. A mudança de nomenclatura se deu como uma tentativa de valorizar as lésbicas e a importância delas no contexto da diversidade sexual, e também de aproximar o termo brasileiro com o termo predominante em outros países. A partir destas Conferências Nacionais LGBT, foi sendo construído o Sistema Nacional LGBT, também o Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de LGBT, dispositivos criados para o acompanhamento de ações que fomentem o debate em vários espaços de governo, instituições de ensino e espaços da sociedade civil.